Da invisibilidade à cidadania

Castro

A partir do dia 05/10/2012, acontece uma exposição no Museu Casa da Praça, localizado no centro histórico de Castro com 10 paínéis fotográficos de Fernada Castro sobre a comunidade quilombola Serra do Apon e parte do acervo do Museu Paranaense. Essa exposição é parte do projeto Da Invisibilidade à Cidadania, que se propõe a organizar uma série de exposições itinerantes em alguns municípios paranaenses para divulgar a vida das comunidades quilombolas e incentivar o resgate de sua cidadania. Este projeto deve seguir ainda para Ponta Grossa e Candói. O projeto é uma iniciativa do Setor de Antropologia do Museu e é desenvolvido pelo antropólogo Jurandir de Souza.

Serviço:
Da invisibilidade à cidadania - Exposição sobre a comunidade quilombola Serra do Apon
Local - Museu Casa da Praça - Centro Histórico Castro
Horário de visitação - 9h às 17h
Endereço - Praça Getulio Vargas, 10.
Telefone - 042 39062128
Período da exposição - 05/10 à 03/12/2012

Imagens da abertura

Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura
Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura
Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura
Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura
Imagem da abertura

 

Comunidade quilombola Serra do Apon

Localização

A comunidade está localizada a cinquenta quilômetros da sede do município de Castro.


Nome da comunidade
“Onde eu moro era chamado de Faxinal dos Prudente, que Prudente era meu bisavô, agora é Serra do Apon”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos.

Histórico

A comunidade traz como referência geográfica a Serra do Apon e o Ribeirão. Os habitam na Serra do Apon, são descendentes dos que foram escravizados (as) na fazenda Capão Alto situada no município de Castro e que de lá saíram por não aceitar a escravidão. Quatro núcleos compõem este quilombo: Faxinal de São João (sede), Paiol do Meio, Santa Quitéria, Lagoa dos Alves.Segundo relatos colhidos no local a comunidade está nas terras há mais ou menos 250 anos.

“O pai não falava muita coisa perto de nóis. A mãe dizia que não era pra falá da escravidão. Não podia falá nada da Capão Arto, porque nóis ia vortar pra ser escravo. Quando perguntava daqueles tempo a mãe dizia ansim: - Me esqueci - Mas eu era ladina, eu escutava arguma coisa”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos.

A fazenda Capão Alto, segundo pesquisas, foi palco da última revolta escrava do Paraná. Em 1749 a fazenda passou a pertencer aos religiosos de Nossa Senhora de Monte Carmelo. De propriedade dos padres carmelitas a fazenda continuou por mais de um século sob seus domínios, porém nos meados do século XIX foi abandonada por seus proprietários que partiram para São Paulo, deixando nas terras as pessoas escravizadas por eles. Essas pessoas ali permaneceram livres por todo um século de abandono e seus descendentes continuaram auto-organizados também com agricultura e criação de gado, trabalhando para o seu próprio sustento, não conhecendo senhores e como servos devotos apenas de Nossa Senhora, a santa que se encontrava na capela. Negros e negras diariamente compareciam na capela, rezavam, pediam orientação e elegiam semanalmente um coordenador para orientar os serviços conforme suas necessidades. Em 1864, um século depois do abandono, os escravizados pelos carmelitas foram vendidos para uma firma de São Paulo, mas a fazenda Capão Alto foi negociada pelos padres e na sequência os novos donos da terra quiseram levar os (as) negros (os) para São Paulo, na condição de escravidão, mas percebendo que voltaria o cativeiro não aceitaram tal imposição e resistiram à escravidão que voltava de forma igualmente violenta. Na tentativa de conter a revolta escrava na fazenda chegaram reforços militares de Ponta Grossa e de Curitiba atacando mulheres, homens e crianças. Ao serem derrotados pela força militar os que puderam, fugiram foram para o Socavão, divididos estrategicamente em dois grupos: os Acróbio - Prudente- para a Serra do Apon, Faxinal de São João, Paiol do Meio, Santa Quitéria, Lagoa dos Alves e na Porteira e os Mamãs foram para a região que hoje tem este nome, no Ribeirão e no núcleo Imbuial. A senhora Liberata Rodrigues da Silva, parda, forra, agregada da fazenda Capão Alto, cujo pai é desconhecido pela comunidade, saiu da referida fazenda para a Serra Velha ou Apon, onde acolhia negras e negros livres e não livres oficialmente, que chegavam de diferentes lugares. Os grupos que chegavam ao local iam formando núcleos familiares, quatro deles localizados: Faxinal de São João, Paiol do Meio, Santa Quitéria e Lagoa dos Alves.
O senhor Prudente Rodrigues da Silva, casado com a senhora Joaquina, filho de dona Liberata Rodrigues da Silva herdou de sua mãe as terras da Serra Velha ou Apon. Raimundo Rodrigues da Silva, seu filho casado com a senhora Durcelina Rodrigues da Silva também permaneceu nas terras assim como permaneceram os seus filhos, netos do senhor Prudente e bisnetos da senhora Liberata, entre eles o senhor Acróbio Rodrigues casado com a senhora Maria Zelina e toda a sua descendência que ainda habita a região da serra. A senhora Vani Rodrigues da Silva, uma das filhas do senhor Acróbio, ao falar sobre de onde vieram seus antepassados mais antigos respondeu:

“A mais antiga era africana, ela era africana, agora a Maria Sampaia era minha bisavó, mas não lembro de que lado ela era. A mãe contava que a Maria Sampaia era muito esperta. Quando eu fazia traquinage a mãe falava ansim: ‘Lá foi a Maria Sampaia aprontá’. Ela dizia porque eu era daninha e sapeca, quando eu escapava da roda da mãe, se eu não tava trabaiando tava aprontando. Agora meu avô era o Raimundo e minha avó era Durcelina, irmã do Chico Mamã”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos

Sobre os trabalhos dos mais antigos, a senhora Vani relatou:

“Os mais velho era tropero. Tinha carro de boi de duas roda de madeira com dois ou com um boi. Tocavam criação, porco, cavalo, vaca da Serra do Apon até Castro, posavam na estrada. Não tinha dinhero, era uma troca para sobrevivência, passavam por dentro d’agua, lá pros lado do Capão Alto, Três Ponte... Meu pai e meus tio trabaiavam na estrada com enxadão fazendo as estradas. Eles trabaiavam demais e o inspetor castigava. Trabaiava embaixo de ordem e quem bebia e brigava, então era castigados lá na estrada. Ali ficô chamado de Subida do Castigo”. (Senhora Vani Rodrigues dos Santos).

Cultura e tradição

O padroeiro é São Cristóvão e Nossa Senhora Aparecida, também é venerada. A Encomenda das Almas era tradição, porém, relatam que na atualidade, com os evangélicos na comunidade, já não fazem mais. 

“O pai era rezador, ele reunia os parentes, os compadres, os vizinhos para a Recomenda e ele levava a matraca na cintura, batia palma nas casa. O dono da casa mandava entrar, dava chimarrão, café e cada pessoa levantava da cama e acompanhava a reza das almas nas outras casa . As almas vêm rezá, se não levantá pra rezá, a mãe dizia ansim e eu fiquei encasquetada com isso e uma noite eu chamei a mãe pra ouvi as armas rezano, mas ela disse que era meu tio.” Senhora Vani Rodrigues dos Santos.

A Recomenda das Almas não fazem mais, embora ainda permaneçam na memória de uma das últimas guardiãs da cultura centenária, assim como algumas cantigas, versinhos declamados, rezas e histórias de assombrações.

“Visage é arma de pessoa antiga que morreu e não se sarvô”. “Um dia meu pai resorveu rezá com a matraca na cruz de um enforcado e no meio da reza a arma do enforcado gritou no meio do mato e pararam de rezá. Se eu tivesse lá, já pinchava umas pedrada”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos.

Ela também conta que por três vezes viu visagem. Numa das vezes ouviu machadada e bordoadas na árvore e por três vezes comprovou que não tinha outra pessoa viva naquele local então ela falou: - “Pode ficar por aí que eu tenho mais o que fazer”. – Disse e foi embora cuidar da vida.
Numa outra vez, conta dona Vani que, viu um homem chamado Henrique Peter que há algum tempo morreu em acidente: 

“Eu vi ele com o joelho bem alto e seco. Eu passei. Ninguém se incomodô. Nós passemo. Era a visagem da arma dele”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos

Algumas pessoas, as mais idosas da comunidade ainda lembram da “lagarta de ouro” que passava mostrando riqueza:

“A mãe do ouro eu vi. Meu pai via e nóis também, mas nóis tinha medo. Era uma lagarta que passava acesa e caia no banhado, mas nunca mais vi, de certo ela encantô”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos

“Eu aprendi a trabaiá na roça e não aprendi na escola. Sô analfabeta, eu só sei escrever meu nome e trabaiá na roça. Sei também cantar versinho que aprendi com os mais velho do socavão. Minha mãe cantava:
Joguei meu lápis pra cima pra vê onde ele caia
Caiu no chão fez um esse de tudo você se lembra só de mim você se esquece.
Marmelo é fruta gostosa enquanto não apodrece
Que nem amor novo enquanto não aborrece.
Cumpanherada tá na hora da despedida
É madrugada que o galo já cantô
É fim do baile que o dia já clareou."
Senhora Vani Rodrigues dos Santos.

Terra e trabalho

A comunidade vem sofrendo pela invasão e pelas queimadas das casas para que abandonem as suas terras, mas permanece a persistência pelo direito de ficar na propriedade.

“Nós somo duro na queda, já tamo passando de tudo há muito tempo mesmo e não temo medo de mais nada. Não vamo se afogá em poca água”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos.

Descendentes da senhora Liberata sabem que era grande a quantidade de terra que tinham, pois dava para plantar, comer e negociar o que sobrava.

“O tamanho da terra era grande desde a serra , passava no “Poso das Anta”, o pai contava e depois encontrava no Socavão. Agora a terra é poca, não dá para trabaiá. É difíci, tamos sofrendo demais e queremo planta e dexá serviço pros mais novo. Queremo ensiná eles trabaiá. Agora encheram tudo de eucalipto”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos

O cultivo mais importante é o milho e o feijão, só para consumo. O abastecimento de água vem de um riacho e ainda há casas com paredes de adobe e piso de terra batida. 

“Eu saia cedo e deixava os filho dormino e voltava de noite. Ia trabaiá na roça, era longe. Um dia deixei eles dormino e sai, não quis acordá e deixei dormino e eles acordaro e não me viram e começaro chorá achando que posaram sozinho. A maiorzinha tinha oito ano. Eu tinha quatro menina porque os menino morrero com oito mês, foi a febre que mato”. Senhora Vani Rodrigues dos Santos


Dr. Ulysses

A partir do dia 14/08/2012, acontece uma exposição na Câmara Municipal de Dr. Ulysses com 10 paínéis fotográficos sobre a comunidade quilombola do Varzeão, em Dr. Ulysses. Essa exposição é parte do projeto Da Invisibilidade à Cidadania, que se propõe a organizar uma série de exposições itinerantes em alguns municípios paranaenses para divulgar a vida das comunidades quilombolas e incentivar o resgate de sua cidadania. Este projeto deve seguir ainda este ano para Ponta Grossa, Candói e Castro. O projeto é uma iniciativa do Setor de Antropologia do Museu e é desenvolvido pelo antropólogo Jurandir de Souza.

Serviço:

Da invisibilidade à cidadania - Exposição fotográfica sobre a comunidade quilombola do Varzeão
Local: Câmara Municipal de Dr. Ulysses
Endereço: Rua Olivio Gabriel de Oliveira, s/n - Dr. Ulysses
Período de exposição: 14/08/2012 a 14/09/2012
Horário: de segunda a sexta-feiras, das 8h às 11h30 e 13h às 17h (nas terças também das 18h às 19h)  

Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura
Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura
Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura
Imagens da abertura

 

 

Comunidade quilombola do Varzeão

Localização
A comunidade está localizada a 70 quilômetros da sede do município.

Nome da comunidade
O território era inicialmente conhecido como Varzeão, mais tarde passou a ser chamado de Vila Branca e finalmente, se tornou o município de Doutor Ulysses e a comunidade permaneceu com o nome de Varzeão.

Histórico
As famílias da comunidade descendem da união do senhor Feliciano Pereira Guimarães e dona Carolina Maria de Souza. Entre os descendentes dessa união estão o senhor Luiz Rodrigues de Castro (Luizinho), falecido aos 99 anos em 2011, e o senhor Donato Batista Monteiro atualmente com 72 anos.
O senhor Donato Batista Monteiro, conta que a comunidade surgiu há cerca de 200 anos quando Feliciano Pereira Guimarães, negro escravizado pelo tropeiro João Alves de Souza, casou-se com a única filha desse homem, dona Carolina Maria de Souza. Esta como filha única de João Alves herdou todas as terras que o pai havia recebido por serviços prestados ao Império em 1870.

Cultura e tradição
Medicina tradicional, casa de farinha, monjolo e as festas permaneceram por dois séculos na comunidade e a prática da medicina tradicional também foi preservada
Segundo relatos colhidos não se fazem mais as festas para o Divino nem as festas de São Gonçalo, pois a comunidade é, atualmente, evangélica.

Terra e trabalho
Na comunidade Varzeão vivem os descendentes de Feliciano Pereira Guimarães e Carolina Maria de Souza. (este Feliciano Guimarães de Castro, por membros da comunidade é citado como Feliciano Pereira Guimarães na Certidão de Inteiro Teor do Serviço Registral da Comarca de Cerro Azul, Paraná, lavrada em 1958).
Sobre a permanência na terra de seus ancestrais membros da comunidade contam que têm passado por grandes situações de violência e destacam fatos marcantes de mortes, ameaças, invasão e queima das casas. O senhor Donato contou que alguns policiais colocaram fogo nas dezessete casas, no paiol da lavoura e derrubaram a escola. 
A casa de farinha funcionava dia e noite no período das invasões para o sustento das famílias da comunidade e para garantir as viagens, na luta pela terra:
“A farinha que produziam durante o dia era destinada ao sustento da comunidade e durante a noite, sua avó Helena, esposa do ‘velho Raimundo’, trabalhava fazendo mais farinha e o dinheiro da venda dessa farinha, era usado nas viagens do “velho Raimundo” na tentativa de regularizar as terras da comunidade”. Senhor Juventino Rodrigues de Castro.
Passada a época da política, algumas pessoas conseguiram, por intermédio de um advogado, permanecer na propriedade e paulatinamente aqueles que foram obrigados a fugir têm voltado à Comunidade.
O senhor Luiz Rodrigues de Castro, sogro do senhor Donato, ao confirmar o acontecido acrescenta além das queimadas de casas outras formas de violências recentes: ameaças e propostas vexatórias para abandonarem suas terras ou vendê-las a preços irrisórios, o plantio de pínus em suas terras e o bloqueio do caminho que possibilita a saída de sua propriedade.
Está muito acentuada a invasão de plantadores de pínus, poluindo e exterminado os rios e a mata e cercando o cemitério onde os ancestrais, negros, estão sepultados. Para o senhor Luiz isso é um desrespeito à história e à condição humana e denuncia também que o caminho que ele percorria há mais de quarenta anos na cabeceira do rio Tigre está sendo trancado com arame pelo senhor Valdomiro de Oliveira. Atualmente para ele sair de sua propriedade precisa atravessar montes, passar por dentro de água e pelas propriedades dos vizinhos.
Na atualidade a comunidade sobrevive da criação de animais e do cultivo de feijão, milho, mandioca, arroz e abóbora para consumo familiar. A pesca que é pouca é individual em rio, com anzol.


Campo Largo

 

Casinha Quilombola

 


Do dia 3 de julho a 4 de agosto de 2012 acontece a exposição de fotografias das comunidades quilombolas Palmital dos Pretos e Sete Saltos, do município de Campo Largo, no Museu Histórico do município.

A iniciativa consiste num projeto de exposição itinerante do Museu Paranaense intitulado: “Da invisibilidade à cidadania”. Com fotos de Socorro Araújo, o projeto visa promover e dar importância às comunidades tradicionais da região.

Mais quatro municípios devem ser visitados por esta exposição itinerante neste ano, são eles: Dr. Ulysses, Ponta Grossa, Candói e Castro.

A exposição fica aberta de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, com entrada gratuita.

Local: Museu Histórico de Campo Largo
Praça Getúlio Vargas, 2422 - Centro - Campo Largo

 

Da invisibilidade à cidadania - Imagens da abertura

 Imagem de Socorro Araújo