Céu-Eclipse

Céu-Eclipse. Exposição. Dezembro a abril de 2026.

 

Céu-Eclipse está ancorada em movimentações que relacionam o local e o global no desejo de pensar os desafios do tempo presente. Nesta mostra, o MUPA reafirma a centralidade dos seus eixos norteadores ― Identidades Múltiplas, Ecologia, Memória e Cosmovisões ― para propor indagações que chamam à agência. Como deve um museu se colocar diante da crise climática que atravessa os anos? Como podemos, todos, atuar em meio a ela? 

A meteorologia é aqui reconhecida em seu valor científico e para além dele. Situada no epicentro da proposta, ela age como protagonista de uma teia de relações que envolve e conecta diferentes seres. Nessa simbiose, convidamos ao diálogo as múltiplas formas de entender, viver e encarar o tempo, seja este cronológico, social ou ambiental. 

Recebemos para tanto o trabalho de artistas nacionais e internacionais que permitem interligar uma pluralidade de linguagens ― verbais, não verbais, científicas, artísticas e históricas. No mesmo ano em que a COP 30 chega ao Brasil, nos propomos a ouvir essas linguagens ativamente, vivenciá-las, percebê-las e registrar tudo aquilo que nunca esteve em silêncio. Com temporais e eclipses, o céu se faz escutar no seu próprio idioma. Uma sonoridade palpável que une sujeitos humanos e não humanos em uma mesma atmosfera.

As disciplinas científicas tradicionais do MUPA se desenvolvem na mostra em comunhão com as práticas contemporâneas, viabilizando a interposição de diferentes temporalidades. Ao desvencilhar o passado da ideia de imutabilidade e reconhecer no hoje a não linearidade dos seus efeitos, a proposta se aproxima dos conceitos de tempo e de clima, enxergando neles o ponto de convergência entre o instante e a longa duração.

Estão articuladas neste espaço perspectivas plurais, que abrangem os saberes e fazeres da cultura, biologia, tecnologia e cosmologia. Para além das urgências atuais, o fio condutor se enraíza em meio ao acervo e à história do próprio Museu, a partir da figura de Reinhard Maack. Encontramos, assim, a oportunidade de refletir sobre o papel dialético das instituições culturais, compreendidas nesse contexto como agentes promotores de trocas, ideias e modos de agir no mundo. 

Fazer desta uma construção contínua, que precede e ultrapassa a extensão de Céu-Eclipse, é o convite central do MUPA para o público que aqui se encontra. Nosso incentivo é por uma busca perene, que esteja sempre circunscrita à possibilidade de trilhar um futuro conjunto para as diferentes formas de vida.

 

MUSEU PARANAENSE

 

 
 Texto curatorial
 
 Minibios

 

ARTISTAS | EXPOSIÇÃO

Alberto Garutti

Foi uma das figuras de referência na cena artística italiana e internacional dos últimos 50 anos. Artista e professor, lecionou de 1990 a 1994 na Academia de Bolonha e, de 1994 a 2013, foi titular da cátedra de Pintura na Academia de Brera, em Milão. Sempre interessado em explorar os espaços e as dinâmicas de relação entre obra, espectador e instituição, transformou as formas de fazer arte pública, redefinindo radicalmente os seus processos de concepção. Suas obras são concebidas como sistemas abertos de relação, formas de encontro entre os cidadãos, os espectadores da arte e a paisagem, sutis leituras críticas do nosso presente.

 

Erika Verzutti

Trabalhando materiais como o papel machê, bronze, gesso, concreto, tinta acrílica, óleo e cera, a artista brasileira ocupa uma zona de contato entre a pintura e a escultura. Explora formas orgânicas em conjunto com um processo empírico de moldagem manual. As superfícies de suas esculturas são frequentemente rugosas, riscadas, escavadas e recortadas. Sua prática encontra um intercâmbio entre propriedades materiais e carga simbólica, reprocessando tanto a escultura modernista quanto a construção vernacular. A rede de alusão criada pelas esculturas de Verzutti produz um campo de ressonâncias entre as figuras construídas e as referências culturais que seus contornos e silhuetas evocam.

 

Flora Leite 

Artista e pesquisadora paulista, explora diferentes linguagens e suportes para transpor seus questionamentos sobre formas e práticas cotidianas. Os materiais empregados em seus trabalhos, aparentemente simples, revelam uma complexidade reflexiva ao serem deslocados de seus usos habituais. 

 

Francis Alÿs

De origem belga e com formação em Arquitetura, mudou-se para a Cidade do México em 1986, onde continua a viver e trabalhar, e foi o confronto com questões de urbanização e agitação social no seu país de adoção que inspirou a sua decisão de se tornar artista visual. Ao transitar entre uma ampla variedade de mídias, incluindo documentários, pinturas, desenhos, performances, animações bidimensionais e vídeos, seus trabalhos revelam uma profunda sensibilidade poética e imaginativa, permeados por questões antropológicas, geopolíticas e culturais que se entrelaçam com cenas do cotidiano de diferentes lugares do mundo.

 

Guido van der Werve

Artista e cineasta nascido na Holanda, foi desde criança incentivado a aprimorar habilidades musicais. Mais tarde, desenvolveu seus interesses no campo da performance e das artes audiovisuais. Performance, música, texto, esporte e cenas atmosféricas são elementos recorrentes em suas obras, caracterizadas por longas tomadas meditativas e pela recusa em trabalhar com atores.

 

Laís Amaral

Natural de Niterói, iniciou sua carreira artística em 2017 por meio do coletivo Trovoa, discutindo questões sociorraciais e de gênero e seu impacto no campo das artes. Autodenomina-se uma “artista-artesã” e desafia as fronteiras entre arte e artesanato. Utiliza ferramentas não convencionais, como instrumentos de manicure e pentes, e questiona as noções tradicionais da abstração ocidental. Suas pinturas funcionam como narrativas visuais e empregam técnicas como camadas e raspagem de tinta preta sobre composições coloridas para revelar histórias ocultas, de forma análoga a uma escavação arqueológica.

 

Marcelo Conceição

Artista fluminense, autodenomina-se um garimpeiro urbano. Os materiais que compõem suas obras são carretéis, miçangas, botões, fivelas, tampas, rolhas, contas, búzios, cascas de coco, argolas de cortina, sobras de instalações elétricas e uma infinidade de outros apetrechos encontrados pelas ruas do Rio de Janeiro. A aparente leveza das composições contrasta com a densidade das articulações que ora sugerem movimentos brandos e elípticos, ora ameaçam com extremidades pontiagudas e bélicas.

 

Sheroanawe Hakihiiwe 

Artista e xamã Yanomami, residente da comunidade indígena de Pori Pori, localizada em Alto Orinoco, na Venezuela. Seus trabalhos amparam-se na memória oral, na cosmologia e nos saberes ancestrais de seu povo. Desenvolve, por meio do desenho, uma linguagem sintética, concreta e minimalista sobre a vasta e intensa relação de sua comunidade com a paisagem que a rodeia. Essas ligações permeiam o âmbito do pessoal e do coletivo, sendo seu trabalho uma revisão contemporânea da cosmogonia e do imaginário Yanomami.

 

ARTISTAS | ABERTURA

Aivan

Multiartista pernambucana, transita entre o teatro, a música e a performance. Iniciou sua carreira nas artes na década de 1980 como cantora e, atualmente, integra o MEXA, coletivo artístico criado em 2015 por pessoas LGBTQIA+ no contexto das Casas de Acolhida de São Paulo. 

 

Arto Lindsay

Músico, compositor e produtor estadunidense que reside no Brasil desde a infância. À frente da banda Ambitious Lovers, inovou ao criar um estilo musical que mesclava samba, R&B e experimentalismos. Produziu discos de Caetano Veloso, Gal Costa, David Byrne e Ilê Aiyê, entre muitos outros. Colaborou em projetos desenvolvidos em parceria com artistas plásticos, entre eles, Jean-Michel Basquiat, Matthew Barney, Vito Acconci, Renata Lucas, Tunga e Rivane Neuenschwander. Fomentador do carnaval baiano, tem se dedicado a construir desfiles próprios como forma de performance e instalação ambulante. 

 

CONSULTORES

Déborah Danowski 

Filósofa, professora emérita da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, especializada na metafísica moderna. Ao longo das últimas duas décadas, tornou-se uma das maiores estudiosas do colapso climático na área das ciências humanas no Brasil e militante pela causa da Terra. É autora, entre outros trabalhos, de “Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins” (2014), com Eduardo Viveiros de Castro, e de “A chuva desmancha todos os fatos: ensaios de filosofia” (2024).

 

Marina Hirota 

Cientista multidisciplinar, com formação e pesquisas nas áreas de matemática, engenharia, meteorologia, ecologia e antropologia. Seus trabalhos atuais desenvolvem-se no campo das Ciências do Sistema Terrestre, buscando compreender os processos e interações que incidem nas mudanças em biomas e ecossistemas tropicais sul-americanos.

 

Sheroanawe Hakihiiwe 

Artista e xamã Yanomami, residente da comunidade indígena de Pori Pori, localizada em Alto Orinoco, na Venezuela. Seus trabalhos amparam-se na memória oral, na cosmologia e nos saberes ancestrais de seu povo. Desenvolve, por meio do desenho, uma linguagem sintética, concreta e minimalista sobre a vasta e intensa relação de sua comunidade com a paisagem que a rodeia. Essas ligações permeiam o âmbito do pessoal e do coletivo, sendo seu trabalho uma revisão contemporânea da cosmogonia e do imaginário Yanomami.