I MUPA – COMUNIDADE – CULTURA – RELAÇÕES
A primeira edição do MUPA – COMUNIDADE – CULTURA – RELAÇÕES, em julho de 2023, teve como objetivo refletir junto ao público sobre o papel da instituição museal e oferecer uma experiência de convívio na sala de exposições temporárias Lange de Morretes, onde os visitantes puderam conhecer os projetos desenvolvidos pelo museu.
Além disso, diversas atividades e mediações foram propostas pelo Núcleo Educativo, convidando o público a refletir sobre o papel dos museus nos próximos anos e a interagir com materiais produzidos pela gestão para exposições e ações educativas.
A definição do Conselho Internacional de Museus – ICOM nos oferece a resposta: museu é “[..] uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”. Museu é espaço vivo e de convívio.
O Museu Paranaense – MUPA atua como plataforma de engajamento, espaço público e plural dedicado ao diálogo de diferentes perspectivas, criação de imaginários e narrativas nas quais linguagem e forma se imbricam. Deste modo, suas diretrizes contemporâneas derivam da vontade de promover um espaço de relações, alargando a escuta e incorporando as diferenças.
O movimento atual de expansão do MUPA se expressa no incentivo e execução de pesquisas e ações transdisciplinares, criando conexões entre os núcleos tradicionais de pesquisa do museu - Arqueologia, Antropologia e História - e o campo das artes, que se direcionam para práticas e dinâmicas sociais contemporâneas, possibilitando diferentes leituras e ativações sobre os acervos.
Desde o seu início, o MUPA se preocupou com as produções artísticas de seu tempo, da comissão de obras até os aspectos que dizem respeito à contemporaneidade e suas formas de expressão artística. Ao realizar a revisão crítica e constante de sua própria história, se fortalece enquanto instituição museológica e abre caminho para perspectivas metodológicas atuais na investigação de narrativas expositivas, identidade e comunicação institucional.
Por compreender seu lugar de guarda de patrimônio e de experimentação nas artes, investe na expansão de suas atividades e na promoção da participação e presença. Tal processo aproxima a comunidade, intensifica o diálogo coletivo, gera inclusão e cria pontes entre a instituição e a sociedade.
A educação acontece dentro e fora do ambiente escolar. E a formação de repertório também. O processo se dá no cotidiano, na transmissão de saberes, em ações, trocas de experiências e acesso a espaços de cultura como o MUPA.
A prática da educação museal, em diálogo com as diretrizes curriculares vigentes, permite encontro e integração. Ao incentivar a reflexão, prover narrativas, criar contextos e promover vivências, o museu cumpre um papel educacional ativo de caráter não-formal.
A partir da pesquisa, produção de projetos e adaptação de metodologias de curadoria, oferece mediações que comunicam as exposições aos visitantes do museu, promovem encontros e engajam a comunidade.
A equipe é ativa e trabalha em conjunto com pesquisadores, artistas e convidados para realizar acompanhamento especializado e educativo, visando aprofundar a experiência nos circuitos expositivos.
O Núcleo Educativo realiza atendimentos semanais a grupos, organiza oficinas, palestras e visitas especiais. Também elabora materiais de acesso digital para o Projeto MUPA para Educadores e demais programas de atividades, como o Férias no MUPA, com a oferta de atividades para crianças e adultos.
A formulação de uma exposição engloba atividades como a escolha de seu nome, a produção dos textos, a pesquisa e as peças que irão compor o espaço. Quando o processo acontece de forma ampla, unindo e movimentando membros da sociedade e da instituição museal, podemos dizer que se trata de uma curadoria compartilhada.
Ao se colocar como um lugar de construção cultural coletiva, lidando com diferenças e refletindo sobre si mesmo, o museu assume seu compromisso social. Na democratização do uso dos espaços e na proliferação de ideias junto às demandas sociais, contribui para o fortalecimento de um espaço público junto à formação cidadã. Deste modo, a instituição expande seus acervos para além de informações catalográficas e incorpora subjetividades ativadas por meio da curadoria compartilhada.
Quais vozes apresentaram o acervo do MUPA em 147 anos?
Como combinar novas abordagens de curadoria, engajamento, crise ambiental, tecnologia, inclusão e aprendizagem para expandir o papel da arte e da cultura?
Pesquisadores, artistas e representantes das comunidades minorizadas, saberes e fazeres de tradicionais, atuaram ativamente junto ao acervo, contando suas próprias histórias e hereditariedade?
Museus foram construídos por uma visão hegemônica, responsável por pensar e decidir o que deveria ser resguardado ou exibido. Refletir este processo é encarar a violência e o apagamento de populações e suas culturas.
Projetos como a Retomada da Imagem, Mejtere: histórias recontadas e Ante Ecos e Ocos revisitaram o acervo do MUPA e questionaram narrativas historicamente legitimadas por sujeitos e espaços de memória. Desta forma, a interseccionalidade foi elemento-chave de operação para romper com dicotomias que limitam o acesso a sensibilidades, afetos e apreensão de múltiplas realidades.
As curadorias compartilhadas do MUPA, construídas para o circuito expositivo passam a refletir sobre as subjetividades negras, indígenas e de representantes de comunidades tradicionais e oferecem espaço que possam (re)contar suas histórias.
De museu de ciências, voltado à botânica, geologia e outras áreas, até se configurar junto às humanidades da Antropologia, Arqueologia e História, o MUPA divulgou e criou diversas narrativas ao longo dos anos.
Por ser um ambiente vivo e em constante diálogo com a contemporaneidade, o MUPA também abre espaço para o campo das artes. Ao operar uma ontologia crítica na desconstrução de sínteses discursivas, oferece a expansão da experiência museal pela arte. As Artes, aqui entendidas como ideia materializada, dotada de subjetividades capazes de construir compreensões de mundo, quando em diálogo com outras formas de interpretação da experiência humana, abre caminho para um alargamento da fruição do conhecimento e das identificações.
O que é esta obra?
Qual a relação da obra com o espaço?
Que mensagem ela pode transmitir?
Por que o artista escolheu esses materiais?
Quais relações a obra pode ter com outras peças do museu?
No observar linguagens, explorar a transdisciplinaridade e abrir espaço para as artes, o MUPA caminha para entender as relações históricas e sociais estabelecidas com a comunidade ao longo de sua existência. Neste processo, mais do que contar uma história ou contemplar uma obra, incentiva a efervescência de novas ideias, vocabulários, rostos e vozes.
O MUPA tem fortalecido vínculos com artistas contemporâneos e desenvolvido parcerias com outras instituições, apostando na “leitura crítica da realidade e na realidade da leitura crítica” como possível campo de liberdade.