Lenora de Barros: Fogo no Olho
MOSTRA TEMPORÁRIA
Parte do Programa Público "Corpos ― Indícios, Matrizes ― Espécies"
Em cartaz de 05/2024 a 06/2024
Há 40 anos, Lenora de Barros produz trabalhos em diferentes suportes e campos que refletem sobre a linguagem e o corpo. Uma pequena retrospectiva dessa produção, com trabalhos em fotografia e vídeo, foi selecionada para abrir a programação do II Programa Público do MUPA, “Corpos ― Indícios, Matrizes ― Espécies”, que nesta edição propôs mais de 60 eventos em torno das linguagens transversais do corpo.
A seleção apresentou obras icônicas como "Poema" (1979), "Língua Vertebral" (1998) e "Fogo no Olho" (1994) – que dá nome à exposição –, até trabalhos menos conhecidos, como o vídeo "Procuro-me" (2003), uma ativação realizada em Curitiba em 2003 da célebre produção de autorretratos da artista.
Texto crítico
Há mais de 40 anos, Lenora de Barros produz uma obra que desafia as estruturas convencionais da linguagem, buscando expandir nossos modos de escrever o mundo e nós mesmos.
Ao transitar pelos mais diversos formatos, sua produção dialoga com interesses de múltiplos campos, como as artes visuais, a poesia e as artes performáticas, configurando-se como exemplo notável de prática que habita as bordas e explora a potência daquilo que é limítrofe e adjacente.
No MUPA, apresentamos um pequeno conjunto de obras que exploram a dimensão polifônica da palavra “língua” – a um só tempo órgão, músculo, idioma, linguagem, sistema abstrato de signos inter-relacionados.
Além disso, outras obras traçam diálogos entre ver e dizer, palavra e imagem. Elas serão disparadoras para uma conversa sobre a trajetória da artista e as principais questões que permeiam sua produção.
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Pollyana Quintella
Sobre a artista
Artista visual e poeta, Lenora de Barros iniciou sua carreira na década de 1970. Formada em Linguística pela USP (Universidade de São Paulo), suas primeiras obras podem ser colocadas no campo da "poesia visual", associada à poesia concreta da década de 1950. Em 1983, publicou o livro “Onde Se Vê”, conjunto de poemas um tanto incomuns. Alguns deles dispensavam o uso de palavras, sendo construídos como sequências fotográficas de atos performáticos. No mesmo ano, participou com poemas visuais em videotexto da 17ª Bienal Internacional de São Paulo. Desde então, Lenora construiu uma poética marcada pelo uso de diversas linguagens: vídeo, performance, fotografia, instalação sonora e construção de objetos.
Em 1990, mudou-se para Milão, na Itália, onde permaneceu por um ano, momento em que realizou sua primeira exposição individual, "Poesia É Coisa de Nada", na Galeria Mercato del Sale. Na mostra, inaugurou a série de trabalhos "Ping-Poems" ao espalhar 5 mil bolas de pingue-pongue no chão da galeria com a frase-título impressa.
Suas exposições coletivas e individuais mais importantes incluem a participação na 59ª Bienal de Veneza – "The Milk of Dreams" (Veneza, 2022); "Não Vejo a Hora", na Galeria Gomide&Co (São Paulo, 2023); "Minha Língua", na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2022); "Retromemória", no MAM-SP – Museu de Arte Moderna de São Paulo (2022); "Tools for Utopia: Selected works from the Daros Latinamerica Collection", no Kunstmuseum Bern (Berna, 2020); "Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana", 1960-1985, curada por Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta, no Hammer Museum, em Los Angeles, e no Brooklyn Museum, em Nova York (2018), Pinacoteca do Estado de São Paulo (2018); "ISSOÉOSSODISSO", na Oficina Cultural Oswald de Andrade (São Paulo, 2016), 11ª Bienal de Lyon (França, 2011), além da participação na 17ª, 24ª e 30ª edições da Bienal Internacional de São Paulo (1983, 1998 e 2012).
Sobre o Programa Público
“Corpos ― Indícios, Matrizes ― Espécies” é a segunda edição do Programa Público do Museu Paranaense (MUPA), um projeto experimental e bienal que, em 2024, aconteceu entre os meses de maio e agosto.
A partir de uma série de ações artísticas, educativas e culturais gratuitas, o público é convidado a se aproximar dos debates, trânsitos e manifestações associados ao corpo ― humano, não humano, orgânico, inorgânico ― como materialidade portadora e geradora de linguagens transversais.
Deste Programa Público, que conta com convidados de múltiplas partes do Brasil e do mundo, participam artistas, pesquisadores, professores, arquitetos, escritores e detentores de saberes e fazeres tradicionais.
Por meio de mesas de conversa, performances, oficinas e exibições, busca-se fomentar diálogos e trocas que aproximam diferenças, colocando em destaque a relação entre corporalidades distintas e temas como história, antropologia e arqueologia; artes plásticas, artes visuais e audiovisuais; literatura, poesia e escrita; infância, educação e aprendizado; gênero, raça e identidade; religiosidade, ritualidade e sagrado; dança, música e artes circenses; moda, design e arquitetura; sonoridade, sensorialidade e outras formas de experiência corporal.
Ao reafirmar a importância da cultura material e imaterial, bem como de seus sujeitos e os encontros que os permeiam, pretende-se também fortalecer a potência do museu como espaço de relações.
A abertura da segunda edição do Programa Público do MUPA, “Corpos ― indícios, matrizes ― espécies”, aconteceu no dia 16 de maio de 2024, e contou com uma mesa de conversas com a artista visual Lenora de Barros e a curadora Pollyana Quitella, com mediação da galerista Bruna Grinsztejn.