III MUPA – Comunidade – Cultura – Relações
De 3 de junho a 3 de agosto de 2025, a sala Lange de Morretes se transforma em um espaço de convivência lúdica, criativa e de experimentação coletiva. Esta 3ª edição do MUPA – Comunidade – Cultura – Relações, projeto coordenado pelo Núcleo Educativo do MUPA, se debruça sobre o acervo e suas múltiplas possibilidades de criação. Na intenção de aproximar o público do tema, propõe diferentes relações com os objetos dentro e fora da instituição.
Em uma cultura, os objetos circulam, são socializados, compartilhados. Quando agrupados, formam um conjunto ao qual se atribui valor — e assim temos um patrimônio. Nos museus, essas coleções recebem um nome: acervo. “Acervo” carrega, portanto, uma determinada importância, tanto em sua manifestação material quanto na palavra. Mas o que é importante para o museu também é importante para você? Como são estabelecidos os critérios dessa seleção? E às coisas “desimportantes”, às miudezas, às coisas engavetadas e inventadas, não mereceria ser dada atenção, como disse o poeta Manoel de Barros?
Mobilizados por essas questões, a partir de três núcleos temáticos, “Produzir”, “Guardar” e “Preencher”, convidamos o público a colecionar, interferir, inventar, nomear e criar objetos e memórias — para formar um acervo colaborativo entre a comunidade MUPA. A programação conta com oficinas, visitas mediadas pelas exposições e reservas técnicas, além de atividades contínuas na sala, com mediações do educativo, nos horários de funcionamento do museu.
PROGRAMAÇÃO
Arquivo de arquivo: seres invisíveis, espécies fantásticas
Datas: 05 e 06/06, quinta e sexta-feira, das 14h às 17h30
Como as crianças falam sobre um museu? Como elas o percebem? E quantos de seus devaneios podem ser inseridos nas narrativas do acervo? Orientada por essas questões, a oficina, voltada para crianças de 6 a 12 anos, propõe um percurso pelas etapas da produção audiovisual — da escrita do roteiro à edição final.
Ao longo de dois dias, a atividade propõe narrativas possíveis a partir dos arquivos do MUPA. Ao percorrer a reserva técnica, os espaços externos, o acervo e as exposições, as crianças encontrarão personagens, sons, cenários e temas para os vídeos. De forma colaborativa, elas irão criar curtas-metragens experimentais em torno da pergunta: como crianças percebem, recriam e arquivam o acervo do MUPA?
A atividade é oferecida pela parceria do Núcleo Educativo com Juca Fiis, que trabalha entre a arte, arquitetura e educação em colaboração com crianças. Tendo participado de residências artísticas e educacionais no Brasil e outros países, atua com arte educação em parceria com diferentes museus.
Inscrições aqui. Os inscritos devem ter disponibilidade para participar dos dois dias da atividade.
Objetos para serem mostrados
Datas: 17 e 25/07, quinta e sexta-feira, das 14h30 às 16h30.
Você pensa sobre os objetos que você encontra no seu dia a dia? Será que eles poderiam fazer parte do acervo de um museu? Um objeto quando vira “acervo” museológico carrega uma determinada importância. Mas aquilo que é importante para um museu também é importante para você?
Inspirado no acervo do MUPA, o Núcleo Educativo convida o público para uma mediação por peças em exposição, com leitura de poemas e a proposta de criar um objeto inutilitário, fantástico ou provocador — algo que nos desafie a repensar nossas certezas sobre o mundo. A produção desta oficina será exibida na estante de acervo construída pelo próprio público para o MUPA – Comunidade – Cultura – Relações.
Inscrições aqui. A oficina é livre para todos os públicos e dispõe de vinte vagas.
Cartão-postal: a imagem como lembrança
Datas: 24/07 e 01/08, quinta e sexta-feira, das 14h30 às 16h30
Ao visitar o museu, o acervo em exposição pode nos transportar para outros lugares, evocar momentos do passado e nos lembrar de pessoas queridas. Inspirado por essas memórias, o Núcleo Educativo propõe uma ação de envio de cartões-postais — formas de compartilhar saudações, relatos de viagem ou lembranças com quem está distante, mas permanece presente em nossa memória.
Depois de uma mediação, guiada por lembranças e interesses dos participantes ao longo do percurso, o público poderá escrever em postais do acervo, para que sejam enviados ao seu destinatário.
Inscrições aqui. A oficina é voltada para o público acima de oito anos e dispõe de vinte vagas.
Conheça a Reserva Técnica do MUPA
Datas: 18 e 31/07, sexta e quinta-feira, das 14h30 às 16h
Nesta atividade, o público é convidado a conhecer a Reserva Técnica do MUPA. Com aproximadamente 500 mil peças, muitas delas permanecem fora de exposição e são pouco conhecidas pelos visitantes. A visita será conduzida pelo historiador do MUPA, que vai compartilhar informações sobre os processos de conservação, documentação e gestão de acervo.
Inscrições aqui. A oficina é voltada para o público acima de 15 anos e dispõe de vinte vagas.
Museu inflável: oficina de birutas malucas
Data: 19/07, sábado, das 14h30 às 16h30
A oficina Birutas Malucas é inspirada nas obras da série "Pinturas Vazias", do artista Paolo Ridolfi, presente no acervo do MUPA. Nesta atividade, o Núcleo Educativo propõe um diálogo entre a produção de Ridolfi e a reflexão sobre o vazio – e como é possível criar e imaginar formas estruturadas apenas com ar.
Durante a oficina, os participantes vão conhecer o trabalho do artista, percorrer o museu em busca de inspirações sobre o vazio, e depois montar e personalizar estruturas plásticas para criar suas próprias birutas malucas, na sala do MUPA — Comunidade — Cultura — Relações.
Inscrições aqui. A oficina é voltada para o público de 5 a 16 anos e dispõe de vinte vagas.
GUARDAR
Neste núcleo, está a obra LINNAEUS (2011), do artista Marcelo Moscheta, doada para o acervo do MUPA em 2020 e exposta em 2022 no Programa Público “Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas”. Conservada na Reserva Técnica do museu desde então, a obra agora volta ao espaço expositivo com uma nova proposta de atuação junto ao público. A instalação composta por estantes de ferro, caixas poliondas e 2.000 etiquetas de espécies da flora amazônica é espelhada por outra estrutura de estantes e etiquetas, pensada pelo Núcleo Educativo do MUPA como um convite à interação e criação conjunta.
Ao passo em que a instalação de Moscheta suspende um cenário interno de arquivo — que poderia estar localizado em um ambiente de pesquisa científica ou museal —, com caixas aguardando para serem etiquetadas, classificadas, e as coisas esperando seus respectivos nomes, as estantes dispostas neste núcleo abrem espaço para outras coisas. São novos acontecimentos, temporalidades, pessoas e lugares, materializados pelos objetos trazidos por pessoas como você, que passam pelo museu. São coisas de casa, das ruas, achadas e coletadas; coisas dos bolsos, coisas com memória ou esperando ter suas histórias narradas; coisas do acaso e coisas criadas aqui também, nas atividades propostas na programação do nosso ateliê.
Em LINNAEUS, Moscheta discute a questão científica cartesiana da nomenclatura, em que o conhecer o mundo é cumprido quando se ordena, classifica e se dá nome às coisas. Se na ciência e na linguagem esse é um local de disputa, em nossa instalação, dar nomes é uma brincadeira. Os objetos deixados pelo público recebem etiquetas em branco para que outras pessoas os nomeiem de acordo com seus mundos e imaginações.
CRIE VOCÊ MESMO:
Que outros significados podemos dar às coisas do mundo? No poema de Antonio Cicero, “guardar” ganha o significado de olhar, de cuidar e de mostrar algo ao invés de esconder. Por isso, neste núcleo, convidamos você a:
01) Escolher alguma obra guardada em nossas estantes e renomeá-la usando as etiquetas em branco que estão sobre a mesa. Deixe que a fabulação e imaginação floresçam, pois quando nomeamos algo, temos o poder de alterar aquele objeto e sua função. Afinal, dar nome também é criar e tornar visível uma característica, abrindo assim novas possibilidades;
02) Trazer algo de casa, da rua, algo que está no seu cotidiano ou na sua memória para ser guardado em nossas estantes. O que é externo ao museu e que você gostaria de mostrar dentro dele?
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Antonio Cicero
PRODUZIR
Este núcleo contém o ateliê do projeto MUPA — Comunidade — Cultura — Relações. “Ateliê” é uma palavra originada da língua francesa, que em português tem como uma de suas definições “o local onde artesãos, artistas ou operários trabalham em conjunto.” A produção de um objeto pode se dar de forma individual ou coletiva, mas como afirma Cao Guimarães, todas as pessoas que produzem arte produzem-na para que outras pessoas vejam e reinventem aquela obra, seja ela um objeto, vídeo, música, dança etc.
Em 2024, na edição anterior deste projeto, a sala contou com um espaço temporário de convívio e experimentação, que tinha como proposta aproximar a experiência e a prática. Baseada na ideia do “corpo coletivo” — a união de subjetividades distintas que, juntas, reaprendem a sua relação com o museu e a sociedade —, a ação representou naquele ano um momento contínuo de acolhimento e criação.
Nesta edição, retomamos a ideia de coletividade para pensar sobre os objetos que compõem o acervo do MUPA. O ateliê existe, nesse contexto, como ferramenta de elaboração e construção de oficinas diversas, que buscam trazer para a prática a memória, a reinvenção, a fabulação e a imaginação de um acervo que começa a ser construído a partir desse espaço — o acervo da Comunidade MUPA.
CRIE VOCÊ MESMO #01
O poeta Manoel de Barros embaralha os sentidos e inverte a realidade quando dá vida aos objetos “abridor de amanhecer”, “prego que farfalha”, “encolhedor de rios” e “esticador de horizontes”, contidos no baú de Bernardo.
Seguindo essa proposta, em nosso ateliê convidamos você a construir um objeto que seja inutilitário, fantástico ou que nos desafie a repensar as nossas certezas do mundo.
Se necessário, peça ajuda aos nossos educadores para pensar nos materiais que você deseja usar. Após a criação do seu objeto, coloque-o na nossa estante de acervo da Comunidade MUPA.
CRIE VOCÊ MESMO #02
Quando visitamos um museu, a memória também é viva. Um item ali guardado pode nos fazer viajar a lugares, lembrar momentos do passado e nos remeter a pessoas queridas. Um objeto pode, então, simbolizar a correspondência entre pessoas.
No ateliê, você tem a oportunidade de escolher um cartão-postal temático e enviá-lo a uma pessoa querida, que tenha vindo à sua memória durante esta visita. Cada postal contém a fotografia de um objeto do acervo do MUPA. Escolha o seu favorito, escreva a sua mensagem e deposite-o em nossa caixa. Posteriormente, o MUPA fará o envio do seu cartão-postal ao respectivo destinatário.
Atenção! Lembre-se de preencher corretamente o endereço da pessoa que deverá receber o seu postal. Cada visitante do MUPA tem direito ao envio de um único cartão-postal. Os envios serão feitos somente para localidades dentro do Brasil.
Bernardo é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem
de longe.
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho:
1 abridor de amanhecer
1 prego que farfalha
1 encolhedor de rios –- e
1 esticador de horizontes.
(Bernardo consegue esticar o horizonte usando três
fios de teias de aranha. A coisa fica bem
esticada).
Bernardo desregula a natureza:
Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua
incompletude?)
Manoel de Barros
PREENCHER
Junto às ações do Núcleo Educativo do MUPA, este espaço mobiliza os trabalhos de dois artistas: Juca Fiis e Paolo Ridolfi.
Em Arquivo de arquivo: seres invisíveis, espécies fantásticas, Juca Fiis propõe a criação de um filme experimental, desenvolvido em colaboração com crianças durante oficinas de audiovisual ministradas no museu e voltadas especialmente para o público infantil. O material final evoca um duplo preenchimento. O museu é preenchido pela presença das crianças em seu espaço, e as obras do acervo são preenchidas de significado a partir das narrativas imaginadas pelas crianças. O resultado desse encontro, projetado na sala do MUPA — Comunidade — Cultura — Relações, sugere a reflexão: como crianças percebem, recriam e arquivam o arquivo do museu?
As noções de "preenchimento" e "invisibilidade" também se estendem às Pinturas Vazias de Ridolfi, que integram o acervo do Museu Paranaense. Na série, pacotes e invólucros de plástico encapsulam o ar, que passa a formar o corpo e a estrutura desses objetos tridimensionais. O que antes era invisível agora preenche o vazio com traços de forma, limite, peso, textura e cor. Desse modo, dá-se visibilidade a coisas invisíveis, imaginadas, intangíveis ou imateriais, como um vídeo projetado ou até mesmo o próprio ar.
Copo vazio
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
Chico Buarque e Gilberto Gil