Vênus de Milo (souvenir)

 

nina lins

 

MOSTRA TEMPORÁRIA

Em cartaz de 06/2024 a 09/2024

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Selecionada no IV Edital de Ocupação do Espaço Vitrine, a instalação “Vênus de Milo (souvenir)”, da artista e designer gráfica Nina Lins, ressignifica a representação da escultura grega Vênus de Milo, obra icônica da Grécia Antiga pertencente ao acervo do Museu do Louvre, em Paris (França), a partir de anúncios de venda on-line. A escultura é fragmentada em chaveiros de isopor, em um exercício de desgaste de códigos, como o significado da Vênus de Milo enquanto obra de arte, ideal de beleza e harmonia, e seu valor histórico e comercial. Assim, “Vênus de Milo (Souvenir)” propõe uma reflexão sobre construção de memória, capitalismo, valor e consumo no mercado da arte.

O Edital de Ocupação do Espaço Vitrine é um programa anual do Museu Paranaense, iniciado em 2020. que tem como objetivo trazer propostas de exposição nas áreas de Artes Cênicas, Artes Visuais, Design, Arquitetura e pesquisa em diálogo com as disciplinas científicas da instituição: Antropologia, Arqueologia e História, promovendo a interdisciplinaridade entre esses diferentes campos de atuação, em exposições gratuitas dentro do próprio museu.

 

nina lins

Texto crítico

Vênus de Milo (souvenir) é um desdobramento da pesquisa, em andamento, de  Carrinho Vazio: Vênus de Milo de Nina Lins. De acordo com a artista, a instalação tensiona a "relação entre arte e mercadoria na construção de memórias e acervos de museus". Nessa pesquisa, Nina aciona um modo materialista dialético de investigação artística. Toma como objeto a Vênus de Milo. Porém não a escultura grega incorporada e situada como obra-prima no acervo do Louvre, mas os anúncios e os souvenirs com reproduções da Vênus de Milo em sites de vendas.

Ao colocar em relação duas historicidades, o início do século XIX, quando a Vênus foi encontrada, e a contemporaneidade, com a produção dos souvenirs, a artista provoca debates sobre modernidade, colonialidade, capitalismo e neocolonialismo. Por outro, o deslocamento de interesse do "original" para a "cópia", da reprodução como memória de uma experiência (eu estive aqui) para o souvenir vendido on-line (mercadoria dissociada da experiência) produz uma dupla problematização.

Primeiro, convida-nos a pensar sobre como "as reproduções das obras nas mercadorias anunciadas na internet tornam-se uma imagem autônoma em um circuito de consumo próprio do sistema capitalista". Dessa perspectiva, sua investigação pode ser situada como um exercício poético que, desde um léxico marxista, nos convida a pensar sobre as interações entre arte e mercadoria nos diferentes espaços de circulação das imagens no capitalismo. Segundo, considerando que sua investigação assume a forma "instalação de arte" por meio da apropriação de imagens reproduzidas na internet, Vênus de Milo (souvenir) nos instiga a refletir sobre as complexas relações entre valor artístico, fetiche, arte e mercadoria nos museus.

Essas problematizações são radicalizadas com a instalação do trabalho na vitrine - um espaço/passagem - do Museu Paranaense. Essa ocupação cria uma dialética entre as políticas de circulação, visibilidade e invisibilidade dos museus e as das vitrines e passagens da Paris do século XIX, dispositivo de compressão espaço-temporal utilizado pela classe capitalista para acelerar a acumulação. Tal qual as vitrines da Paris de Balzac, lugar de passagens onde o reluzente fetiche da mercadoria era adorado e consumido, o Espaço Vitrine do Mupa reluz reproduções parciais da Vênus, que sem fantasmagoria alguma, afirmam-se como uma cópia da cópia. Seis serigrafias em escala de cinza sobre isopor, pendendo em chaveiros e situadas plasticamente no primeiro plano de um fundo completamente coberto com vermelho vivo. Do fundo encarnado, tal qual pop-ups incessantes, lambes reproduzem de modo cacofônico e indiscernível imagens de propagandas. Nesse ponto, a instalação embaralha noções de experiência, entretenimento, espetáculo, mercadoria, propaganda, arte e design gráfico, museu e internet. E, a Vênus fragmentada, tal qual um oráculo, endereça-nos a pergunta que fundamentou a recusa Courbet e que foi materializada na Olympia de Manet; que está na base da negação de Duchamp e nos procedimentos de apropriação de Andy Warhol, que mobiliza as poéticas de artistas anticapitalistas: seria a arte o fetiche total e absoluto do capitalismo?

Fabrícia Jordão

Sobre a artista

Bacharel em Artes Visuais pela ECA/USP (2019). Participa do grupo de pesquisa Depois do Fim da Arte, coordenado pela artista e professora Dora Longo Bahia. Em 2021, foi indicada ao Prêmio Pipa. Em seu trabalho,busca pontos de contato entre artes e design gráfico. Lida com a cópia e o desgaste de imagens icônicas dos universos artístico e gráfico, seu estatuto de mercadoria e a sua circulação em outros contextos. Desde 2021 é diretora de arte da revista seLecT_ceLesTe,designer da revista ARS (PPGAV-ECA/USP) e assistente da artista Dora Longo Bahia. Participa do projeto Firma Gráfica com Thais Suguiyama e Pedro Andrada. Participou de diversas exposições coletivas no Centro Universitário Maria Antônia (SP), Centro Cultural da Diversidade (SP), na Galeria Vermelho (SP), na Galeria Saenger (Cidade do México), entre outros.

O encerramento da exposição “Vênus de Milo (souvenir)”, de Nina Lins, contou com uma mesa de conversa entre a artista e a professora e pesquisadora Fabrícia Jordão sobre as relações entre valor artístico, fetiche, modernidade, colonialidade, capitalismo, construção de memória, acervos museais e outras questões suscitadas a partir do trabalho.

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GALERIA DE IMAGENS

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    Foto: Walter Thoms

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    Foto: Walter Thoms

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    Foto: Walter Thoms

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    Foto: Walter Thoms

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